"A busca, que nos leva ao conhecimento e à sabedoria, não é uma viagem sem sentido.
É uma viagem interior de transformação.
É um processo Alquímico. A Alquimia é a arte da transformação. A Alquimia da Alma contempla sete passos. Só quando esses sete passos se concretizam a Alma atingirá a sabedoria plena e a unidade com o Espírito.
O maior desperdício na existência é o desperdício de oportunidades de aprender a vivenciar a vida espiritual.
Cada um veio para procurar o conhecimento.
Toda a Alma se tornará pura.
Passo 1 - A Inocência
Todas as Almas nascem num estado de inocência. Um recém-nascido não questiona a sua existência. Vive num estado de auto-aceitação, confiança e amor totais. A voz inquieta da dúvida ainda não se faz ouvir. Nesta fase existe muito pouca individualidade. Um recém-nascido surge, neste mundo, diretamente da fonte da vida, da qual se vai afastando gradualmente. Ele mantém-se imerso na intemporalidade durante algum tempo, alheio aos conceitos de passado e de futuro. Para ele apenas existe o presente que se vai revelando. Esse é precisamente o significado de viver na eternidade. A eternidade é o momento presente em permanente renovação. A vida eterna já é vivida pelo recém-nascido, uma vez que viver na intemporalidade é o segredo da imortalidade. Mas cada um já tem inscrita em si a tendência para se movimentar para a temporalidade, saindo do silêncio do seu mundo interior para a atividade do mundo exterior. O recém-nascido vai abandonando o seu estado inicial de inocência, começam a surgir os desejos e, com eles, as primeiras vivências. A inocência manter-se-á sempre intata na sua pureza e integridade, mas esquecida.
Passo 2 - O Nascimento do Ego
O passo seguinte anuncia a chegada do Ego, do sentido do eu. Para se ter um eu, tem de se ter, igualmente, um tu ou um isso. O nascimento do ego é também génese da dualidade, marca o início dos opostos, bem como da oposição. Cada novo passo na alquimia renova o anterior, subvertendo o velho mundo. Essa é a revolução mais chocante. O recém-nascido deixou de ser um deus, passando a ser um mortal. De um ser que se sente omnipotente passa para um ser que começa a ver tudo como criações separadas. É nesta fase que nasce para o sofrimento. Durante muito tempo chorará a perda do amor perfeito e sofrerá de saudade de si mesmo, isto é, de como era no princípio. No início não havia separação, todas as coisas pareciam fazer parte de uma unidade que fluia sem fragmentações. Pouco tempo depois, no entanto, surge a perceção de que existe qualquer coisa para além de si mesmo. O Ego diz “ isto sou eu, isto não sou eu “, a pouco e pouco certas coisas começam a ser identificadas como esse eu. Quando surgem as preferências revela-se um mundo separado, isto ou aquilo não sou eu. Enquanto se via como um ser divino, a Alma, não tinha necessidade de recuperar a bênção de Deus. Na separação surge essa necessidade e começa a procura. A Alma perdeu a capacidade de se ver como a verdadeira fonte de tudo. Começa a fazer depender a sua felicidade do exterior. Passa a ter um referencial de objetos que substitui o referencial de si mesma. Claro que nada se perde. O nascimento do Ego levanta questões que continuam a fazer-se sentir ao longo do tempo milenar: o medo do abandono, a necessidade de aprovação, o sentido de posse, a ansiedade da separação, a preocupação consigo mesmo...
Passo 3 - O Nascimento Daquele que Concretiza
Ter um Ego significa que se tem um mundo no exterior da Alma. Daqui emerge uma nova tendência que se traduz na necessidade de sair para o mundo e atingir objetivos. Os primeiros desta mudança são primitivos, mas com o tempo, a Alma, vai-se afastando cada vez mais da paz, unidade e confiança com que nasceu, e o ego torna-se comparativamente mais dominante que a Alma. Esta perdeu a consciência de si. As vivências tornam-se egoístas e nunca mais voltam a ser totalmente partilhadas. Mas o nascimento daquele que concretiza traz confiança e a consciência da qualidade única. O mundo de objetos e acontecimentos está relacionado com o processo de individualização. É neste processo que o Ego é necessário, para se trilhar o caminho escolhido.
O valor atribuído a cada coisa não é o mesmo para cada um. O objectivo daquele que concretiza é muito mais básico e, também, mais simples. É o tempo em que o Ego procura provar a si próprio que a separação pode perdurar. O nascimento daquele que concretiza faz deste um mundo feliz e de conquistas materiais. Em alguns, este passo, perdura durante muito e longo tempo. A sede de fama e de fortuna abafa o verdadeiro propósito da procura. É-nos permitido o livre arbítrio total e se uma pessoa decidir que o mundo exterior é mais importante que o seu ser, é natural que a sede de fama e fortuna se imponha. Não existe qualquer problema nisso, mais tarde ou mais cedo toda a lei se cumprirá. Claro que à medida que o Ego vai crescendo, ele vai abafando a Alma com camadas e camadas de coisas até que uma pequena voz perguntará:
Onde está o Amor? Onde está o Ser?
É a Alma a despertar.
Passo 4 - O Nascimento Daquele que Dá
Com o tempo o Ego depara-se com uma nova realidade, a de que a felicidade não consiste apenas em receber, mas também em dar. Trata-se de uma descoberta que liberta o Ego de vários medos: o medo do isolamento, o medo da perda, o medo de ser roubado.
Quando surge aquele que dá, o Ego, deixa de ter de viver com esses medos, pelo menos com a intensidade com que o fazia. Resolveu-se um problema. No entanto há algo que surge, é que o acto de dar liga duas pessoas, a que dá e a que recebe. Esta ligação dá origem a um novo sentido de pertença, não uma pertença passiva, mas uma pertença ativa, de alguém que aprendeu a criar felicidade. Dar é um acto criativo, que subverte completamente a perspetiva do Ego. Antes a proteção contra a perda era um aspecto de extrema importância. Quando surge aquele que dá, começa a surgir o desapego das coisas e não se sente isso como uma perda. Pelo contrário, o Ego, sente prazer nisso. Começa a despertar o amor. Enquanto o Ego perseguir interesses próprios, não sente amor. Pode sentir prazer e auto satisfação, mas não sente amor. Só um acto altruísta se aproxima do amor. A dádiva não se restringe ao acto de dar coisas. Há que considerar, também, o serviço, a auto-entrega, a devoção e a partilha de um amor puro.
É, por estas razões que, o nascimento daquele que dá é sentido como algo novo e libertador, apesar do papel ainda preponderante do Ego. No entanto, verifique-se que enquanto se der por dever ou preceito, não se poderá sentir o verdadeiro prazer do dar. O acto de dar deverá ser espontâneo e genuíno e não resultante de um sentido de dever. O Ego começa a perder preponderância para a Alma. Claro que o plano de Deus é que cada um se encontre a si próprio. Por isso Ele permite a cada Alma todas as vivências. E ninguém será julgado porque, aos olhos de Deus, nenhuma acção é boa ou má.
Passo 5 - O Nascimento Daquele que Procura
Durante muito tempo, o Ego, fez prevalecer a sua vontade. Para ele o importante sempre foi "o que é melhor para mim" limitando-se à individualidade. No momento certo, aquele que dá, avança mais um passo e transforma-se naquele que procura. Neste tempo as preocupações do velho e familiar Ego, são postas de parte. A consciência do "Eu" expande-se fazendo a Alma sentir necessidade de experiências Espirituais e de uma nova forma de amor. O sentido da dádiva apenas se satisfaz quando se proporciona um benefício a toda a humanidade. Aquele que dá, e que tanto gostaria de abarcar o mundo, deixa de constituir fonte de realização. As coisas que, no passado, foram fonte de prazer tornam-se desinteressantes e a necessidade de auto-importância que caracterizava o Ego, deixa de ser fonte de satisfação. Começa a surgir a necessidade de se SER, de viver na luz, de explorar o silêncio da consciência pura. A Alma começa a procurar no interior de si mesma. Aquele que busca é alguém cujos desejos se expandiram de tal forma que nada o satisfará senão o encontro com Deus. No entanto este desejo não é mais elevado que os desejos que determinaram os passos anteriores. Em cada passo, aquilo que lhe é próprio, representa a face de Deus, porque, nesses momentos, essas eram as coisas mais importantes. Tudo aquilo em que acredita trazer-lhe paz e realização é, para a Alma, a versão de Deus. No entanto, à medida que vai passando de uma fase a outra, vai-se aproximando da verdadeira meta e a imagem de Deus vai-se tornando mais autêntica e próxima da Sua natureza. Deus é Espírito puro.
Aquele que procura é motivado pela necessidade de ter acesso a uma realidade superior, mas isso não significa que os passos anteriores não tenham sido importantes e que se extingam. Neste tempo, por exemplo, a dádiva é isenta de motivações egoístas, passando a ser gerada pela compaixão. Pela primeira vez, a pretensão de tudo saber e de tudo poder do Ego é questionada. A Alma começa a identificar-se com o Espírito e a manifestação deste torna-se visível. Inicialmente, o Ego, não dá ouvidos às manifestações do espírito, pois supõe ser o seu poder absoluto. O Ego está habituado a rejeitar, julgar e a comandar. Mas o Espírito utiliza formas diferentes de poder. O Espírito utiliza a voz tranquila do Ser. Esta é a voz que começa a ser ouvida quando surge aquele que procura. Mas é preciso estar-se preparado para a reação violenta do Ego. Ele não se renderá sem luta. O poder do Espírito é um poder ilimitado, organizado, que mantém tudo num equilíbrio perfeito. O poder do Ego é limitado e trivial. Quando a Alma toma consciência desta realidade deixa de dar prioridade ao poder e às necessidades do Ego. A voz do Espírito anuncia uma realidade mais elevada, mas o acesso a essa realidadeainda é complicado. No entanto começam a surgir noções dessa realidade, sinais de Deus e da imortalidade, acompanhados por uma necessidade de interiorização da Alma.
Passo 6 - O Nascimento Daquele que Vê
A motivação daquele que procura é ser capaz de ver e é isso mesmo que acaba por acontecer. O nascimento daquele que vê, é um passo um pouco mais profundo no caminho daquele que procura. A procura propriamente dita não encerra realização. Se tudo se resumisse a procurar sem encontrar a vida seria árida e frustrante. Felizmente, no plano divino, todas as perguntas contêm em sim as respostas e todas as metas são encontradas na mesma fonte, que é Deus. O nascimento daquele que vê implica a dissolução do Ego e o fim de todas as identificações com o exterior. A Alma identifica-se com o Espírito. Com o Ego tornava-se real a necessidade de atribuir importância à mente e ao corpo, ambos os aspectos condicionados pelo espaço-tempo linear. Aquele que vê transcende essa motivação e deixa de torná-la realidade. A Alma em vez de se ver como um corpo que alberga um Espírito, toma consciência de que tudo é Espírito. O Espírito transcende este mundo. O Espírito é silêncio puro com um potencial infinito. Quando a Alma toma conhecimento de qualquer outra coisa, é um conhecimento parcelar, mas quando toma conhecimento do Espírito torna-se consciência pura. Quando isso acontece todas as questões se dissolvem porque a Alma se encontra no útero da realidade, onde todas as coisas simplesmente são.
Passo 7 - Espírito
A meta da Alma é a sua purificação. O objectivo da vida é a liberdade e a realização. Não se atinge a realização enquanto não se conhecer Deus tão completamente quanto Ele se conhece a Si mesmo. A Alma está sempre à procura de milagres, mas o maior dos milagres reside em si própria. Deus habita em si. O encontro com o Espírito não é o fim da procura, mas sim o início duma vida comum. A Alma começou pelo estágio da inocência e na inocência termina, mas esta inocência é diferente da inicial, porque a Alma contém em si o conhecimento. Quando consegue unir-se com o Espírito, a Alma, cessa a sua identificação com o corpo e com a mente, bem como com os conceitos de nascimento e morte. O Ser (Alma+Espírito) passa a verse como uma célula do corpo do universo e este corpo ser-lhe-á tão íntimo como aqueles em que habitou por longos milénios.O Espírito surge do silêncio puro. O diálogo interno da mente tem de cessar definitivamente, porque aquilo que o desencadeou, a fragmentação do Ser, terminou. O Ser é unificado e cessa toda a dúvida. Da mesma forma que cessa a necessidade de dualidade que caracterizava o Ego e que deu origem ao mundo do bem e do mal. Neste estágio os opostos dissolvem-se e, o Ser ( Alma+Espírito ), adquire a perspectiva de Deus, que, para onde quer que olhe, apenas se vê a Si mesmo. Claro que tudo esteve presente desde o início. Deus sempre esteve presente na Alma. Aquilo que foi mudando foi o ponto de vista. A Alma contém em si, desde sempre, todos os aspectos do Universo, duma forma tão completa e eterna como o próprio Universo. A unidade com o Espírito é um acontecimento grandioso. Conforme a unidade se fortalece melhor se dá a aproximação ao divino, até ao ponto em que vivem Deus como um Ser infinito que se movimenta a uma velocidade infinita, através de dimensões infinitas. O Ser (Alma+Espírito) atingiu o estado de consciência unificada. Eu e o Pai somos Um, mas o Pai é maior que eu. "
baseado em A Sabedoria do Mago, de Deepak Chopra.